Olha o que difere o Brasil da
Eslováquia, um País com instituições e população minimamente consciente,
responsável e políticos que tomam 'simancol', pois sabem a hora certa de cair
fora, pegar seu banquinho e sair de fininho quando percebem que as coisas não
estão bem pra eles. O que não acontece no Brasil.
Nesta quinta-feira (15) o
presidente da Eslováquia Andrej Kiska aceitou o pedido de renúncia feito pelo
primeiro-ministro Robert Fico. A saída deste se deu em decorrência de uma onda
de protestos após o assassinato do jornalista Jan Kuciak, 27, no último dia 25
de fevereiro. Os corpos dele e de sua noiva, Martina Kusnirova, foram
encontrados com marcas de tiro na casa do casal em Velka Maca, na capital
Bratislava. Kuciak era conhecido no País por suas matérias investigativas sobre
corrupção ligadas ao governo.
Na noite de quarta feira (14), a
socióloga, militante e vereadora Marielle Franco (PSOL), 38, foi assassinada
com quatro tiros de dentro de um carro quando vinha de um evento chamado
“Jovens Negras Movendo as Estruturas”, em uma rua próxima à Prefeitura do Rio,
no bairro Estácio, no centro do Rio.
O motorista Anderson Pedro M.
Gomes, 39, também foi atingido pelos disparos e morreu no local. Uma assessora
da vereadora que também estava no carro foi atingida pelos estilhaços tendo
ferimentos leves.
Diferentemente da Eslováquia,
aqui Brasil todos os dias são assassinados jornalistas, políticos, policiais,
lideranças rurais, ambientalistas e uma quantidade muito grande de PP-pobres e
pretos. (ricos e brancos, também!) Entretanto, diante do extermínio que nossa
população vem passando, para as autoridades, instituições e a sociedade parece
coisa natural. Naturalíssimo.
As nossas instituições públicas,
desde os governos municipais, estaduais, federal e incluindo todo nosso sistema
judiciário (STF-Supremo Tribunal Federal, STJ-Supremo Tribunal de Justiça,
STE-Supremo Tribunal Eleitoral, tribunais regionais de todas as instâncias,
corregedorias e Tribunais de Justiças), OAB - Ordem dos Advogados do Brasil,
Congresso Nacional, os partidos políticos, as igrejas católica, adventista,
evangélicas; os movimentos sociais, artísticos, culturais e de defesas das
minorias (negros, índios, LGBT e outros) agem como se o País estivesse vivendo
uma paz celestial, igual a que se vive em países do primeiro mundo.
Sem querer minimizar a morte do
jornalista Kuciak, mas foi á morte dele, a segunda de um jornalista neste ano
na Eslováquia, o motivo para que o povo se mobilizasse, saísse ás ruas e o
estopim fosse aceso e acontecesse o pedido de renúncia do primeiro-ministro e o
pedido de novas eleições neste País.
No entanto aqui no Brasil morrem
todos os dias dezenas, centenas e milhares de brasileiros pela violência das
ruas e do aparato policial; morrem pessoas nas portas e nos interiores dos
hospitais; dentro de casas, nas escolas públicas, no trânsito, na zona rural e
pela violência do crime organizado que cresce como uma praga e ainda assim
nossa sociedade não se mobiliza. Mas bastou a morte de uma vereadora negra para
o País dos hipócritas, coniventes e omissos como o governador e o prefeito do
Rio de Janeiro, o STF e os presidentes do Congresso e da República, além de
ministros, deputados e até um ex-presidente da República, já condenado pela
Lava-Jato em 2ª estância, mais um bando de cantores, intelectuais, artistas e
lideranças dos movimentos sociais se solidarizaram com essas duas mortes no Rio
de Janeiro, como se elas fossem ás únicas e ainda assim ninguém pediu renúncia.
Essa súbita solidariedade dos
hipócritas tem um motivo: estamos ás vésperas de novas eleições e o grande mote
nas campanhas dos pretensos candidatos aos cargos eletivos deste ano será a
segurança pública. É neste barco que todos querem entrar, inclusive os que não
são postulantes aos cargos eletivos mais querem tirar proveito da situação, se
aproveitar da morte de uma ex-vereadora que denunciava policias do 41º BPM
(Batalhão de Polícia Militar) por estar aterrorizando e violentando os
moradores de Acari.
É bom lembrar que Marielle já
vinha denunciando a agressão militar contra o povo favelado há tempos e em sua
última postagem ela escreveu, “Precisamos gritar para que todos saibam o que
esta acontecendo em Acari neste momento. O 41º Batalhão da Policia Militar do
Rio de Janeiro esta aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa
semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou
pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção
ficou ainda pior. Compartilhem essa imagem nas suas linhas de tempo e na capa
do perfil”. Como bem podem ver ela já incomodava a estrutura de poder e de
segurança pública do Rio de Janeiro, por isso morreu.
Foi preciso a morte de Merielle,
antes uma desconhecida do povo brasileiro, para um bando de oportunistas
quererem tirar proveito político e midiático desta trágica situação. Mas acreditem minha gente, mesmo com as denúncias
óbvias e pertinentes feitas por ela, às autoridades não serão capazes, por
omissão ou conivência, de descobrirem os assassinos dela e acabar com a violência
que se abate sobre a população PP-pretos e pobres (ricos e brancos também!) no
Brasil afora, ainda mais quando um juiz no plenário do STF, acreditem, pede por
justiça. Pedir justiça a quem senhor ministro? Parece que o senhor não sabe
onde está e qual a sua função no STF?
Marielle, ao contrário do que
muitos disseram durante em seu velório, sua morte será em vão. Infelizmente não
teremos a classe média (pelo menos para bater panelas), muito menos à casta de
funcionários públicos e suas entidades sindicais e de proteção, que só servem
para defender seus interesses, para fazer as pressões necessárias no executivo,
legislativo e no judiciário para acabar com essas matanças. Eles não estão nem
ai para mortes de militantes negras e moradores de favelas como você. A final
você morava e vivia nos morros e não no Leblon ou Copacabana, onde eles moram e
onde o 41º BPM não irá incomodá-los.
O Brasil não é a Eslováquia.
Juarez Cruz
Escritor e cronista
Juarez.cruz@uol.com.br
Salvador-BA
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